Os gráficos também são meios efetivos de contornar as dificuldades que as pessoas têm em lidar com números. Ao transformar números em representações visuais, a informação parece mais acessível e menos ameaçadora. Huff [HUFF, Darrel, How to Lie with Statistics. New York: W W Norton & Company INC, 1954, pág. 60] analisa a importância de desenhar gráficos para evitar os problemas que as pessoas têm com os números: “Talvez soframos de um trauma induzido pela aritmética do primário. Qualquer que seja a causa, isto cria um problema real para o escritor que anseia por ser lido, o publicitário que espera que sua propaganda venda os produtos, o editor que quer que seus livros e revistas sejam populares. Quando números em forma tabular são um tabu e palavras não irão fazer o trabalho bem, o que é freqüentemente o caso, só existe uma reposta sobrando: desenhe uma figura”.
Mas não são todos que conseguem tirar proveito desses mapas que nos guiam para a compreensão. O INAF [Instituto Paulo Montenegro, Indicador de Alfabetismo Funcional. Disponível em http://www.ipm.org.br], um estudo sobre o alfabetismo funcional no Brasil, mostrou que somente os que tinham alfabetização plena em matemática é que conseguiam demonstrar familiaridade com representações gráficas como mapas, tabelas e gráficos, e menos da metade dos entrevistados declararam prestar atenção nos gráficos que acompanham matérias de jornais ou revistas. E como acontece com muitos assuntos que não conseguimos compreender, ou enxergamos com uma aura de científico, acabamos por aceitá-los sem questionar.
Os gráficos também sofrem de outro mal. Além de parecerem incompreensíveis para muitas pessoas (ou por causa disso), eles carregam consigo uma imagem de enganosos e manipuladores, e, portanto pouco confiáveis e que não merecem a nossa atenção. Mas Tufte [TUFTE, Edward Rolf, The Visual Display of Quantitative Information. Cheshire: Graphics Press, 2007, pág. 53] alerta que os gráficos não são o único meio que sofre desse mal: “Para muita gente, a primeira palavra que vem à mente quando se pensa em gráficos estatísticos é ‘mentira’. Não há dúvida de que alguns gráficos realmente distorcem os dados essenciais, tornando difícil para o observador ver a verdade. Mas, nesse ponto, os gráficos não diferem das palavras, pois qualquer meio de comunicação pode ser usado para iludir. Os gráficos não são especialmente vulneráveis; na realidade, quase todos nós temos ótimos detectores de mentiras gráficas que nos ajudam a ver através das fraudes”.
Talvez essa imagem ruim tenha surgido com o uso que os governos absolutistas e ditatoriais constantemente fazem das informações divulgadas pelos meios de comunicação de seus países, não por acaso estatais; eles formam a opinião do povo por meio de informações enganosas, manipuladas e com dados importantes omitidos, que logo caem na incredibilidade dos consumidores da informação.
Outra explicação para isso é a antiga suposição de que gráficos só serviam para mostrar o óbvio aos ignorantes. Foi somente no final da década de 1960 que os gráficos começaram a ser usados como ferramentas para raciocinar sobre informações quantitativas. Esta elevação de prestígio contribuiu para popularizá-los na mídia e no cotidiano das pessoas, para alegria dos que têm inclinações matemáticas, e para desespero dos indivíduos verbais que insistem que não conseguem compreender números.
No entanto, não se deve perder de vista que gráficos não são nada mais que mapas, no sentido de que tornam padrões e tendências perceptíveis e compreensíveis. Por isso, o princípio diretor da produção de gráficos deve ser o cuidado com o conteúdo, e não com o estilo.
Esse princípio diretor que aponta para o conteúdo, em lugar do estilo, procura eliminar o que Tufte chama de “lixo de gráfico” (“chartjunk”), que de forma simples é qualquer traço de tinta colocado no papel que não tenha a função de informar, e, por conseguinte irá inevitavelmente atrapalhar a compreensão do conteúdo. Geralmente são enfeites desnecessários colocados para embelezar o gráfico e satisfazer a ânsia estética do produtor.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
GRÁFICOS E SUAS RELAÇÕES COM AS PESSOAS
Postado por
Alessandro Nicoli de Mattos
às
22:13
Envie esta postagem por e-mail
Imprima esta postagem
Marcadores:
Sobre gráficos
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário