Estamos cercados de dados estatísticos e gráficos; ligando a TV, abrindo as revistas ou jornais, navegando na Internet, nos spams nos nossos e-mails, no trabalho ou quando vamos às compras. Eles estão sempre lá, tentando provar um ponto de vista, tentando nos vender algum produto ou idéia ou tentando nos convencer a fazer algo.
Mas ao contrário do que muitos pensam, os números podem ser usados para enganar tanto quanto as palavras, e até ainda mais facilmente, pois os números e gráficos carregam consigo uma aura de científico ou indecifrável. Muitas pessoas desistem de entendê-los antes mesmo de tentar, por julgarem não terem os conhecimentos necessários para tal. Os números atemorizam.
E o quadro parece pior quando descobrimos que mais pessoas têm problemas em interpretar os números do que as palavras; há um índice elevado de “anumerismo”. Os dados do INAF [Instituto Paulo Montenegro, Indicador de Alfabetismo Funcional. Disponível em http://www.ipm.org.br] mostram que apenas 23% da população brasileira possuem aptidões plenas em matemática, e que apenas 26% têm aptidões plenas em letramento. A diferença pode ser pequena, mas de qualquer forma indica níveis muito baixos no Brasil de capacidade plena de entender números e palavras. E este é um problema em todo o mundo, mesmo em países desenvolvidos.
Quem sofre de algum grau de “anumerismo” deixa de aproveitar a facilidade que os números oferecem, por serem uma das formas mais fáceis de assimilar informação. Os números com seus valores absolutos são capazes de resumir aspectos relevantes da realidade, muitos dos quais afetam diretamente a nossa vida.Além disso, entender os números, e suas estatísticas e gráficos, nos ajuda a compreender que eles não são portadores de uma verdade divina e indiscutível. A partir do momento que começamos a entendê-los e questioná-los, superamos a imagem de superioridade incompreensível que carregam, e somos tomados por uma sensação de posse desses números, e passamos a nos sentir à vontade com eles. Tão à vontade, que percebemos que a maioria dos números que nos cercam podem ser jogados fora, pois não são tão importantes quanto parecem ou quanto fazem parecer.
Quantos números a mídia e outras formas de comunicação jogam sobre nós todos os dias, e, no entanto, não temos a menor idéia de como isso nos afeta? Quantas vezes recebemos estes números com a reverência de monges, pois eles parecem ser de suma importância, mas não fazemos a mínima idéia do que significam, ou não conseguimos abstrair a sua ordem de grandeza? Preocupamo-nos em saber o aumento da temperatura nos pólos, o índice das bolsas de valores, ou o superávit do trimestre, mas a maioria de nós não sabe ou não teria interesse em saber a relação entre estes números e os impactos ambientais ao nosso redor, o desempenho da economia, ou se um 1 bilhão é pouco ou muito como superávit na nossa economia. Quantas vezes a sua vida foi afetada pela pressão barométrica, o resultado da balança comercial, ou o aumento na população de baleias?
Os números só ganham significado quando podem ser relacionados a algo que pode ser captado visceralmente. Se isso não ocorrer, os números tornam-se inúteis. Isto é especialmente verdade para números grandes.
Se você tivesse que adivinhar a idade da Terra e a idade do Universo, em quais números pensaria? Milhares de anos? Milhões de anos? Bilhões de anos? Todas essas opções são igualmente abstratas para a maioria das pessoas, mesmo que entre estes números haja diferenças de milhares de vezes. Se você fizer essa pergunta para muitas pessoas, irá receber respostas que podem variar de 10 mil anos a 10 bilhões de anos. Estes números são tão grandes, e este período de tempo é tão abstrato e gigante comparado com o tempo de vida de uma pessoa e com os períodos que estamos acostumados a lidar quando estudamos história ou lembramos de eventos passados, que não conseguimos estabelecer uma relação entre o tempo que conhecemos e a idade da Terra ou do Universo.
Quer saber qual a idade da Terra e do Universo? A idade da Terra é estimada em 4,5 bilhões de anos, e a idade do Universo é estimada em 13,7 bilhões de anos.