segunda-feira, 13 de abril de 2009

CUIDADOS AO PRODUZIR GRÁFICOS - PARTE 7 - USO DE GRÁFICOS 3D

Os gráficos em três dimensões são extremamente fáceis de elaborar no computador; tão fáceis quanto qualquer outro gráfico em duas meras dimensões. Então porque continuar usando os tradicionais e sem graça gráficos em 2D, se podemos usar gráficos em 3D que parecem muito mais legais e passam uma impressão de modernidade e sofisticação? Simples, porque para a grande maioria dos gráficos, não é necessário o uso de três dimensões, e o seu uso só adiciona complexidade e confunde o leitor. Use gráficos em 3D somente se a terceira dimensão adicionar alguma informação.

Como Wurman [WURMAN, Richard Saul. Ansiedade de Informação: Como transformar informação em compreensão. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1991, pág. 301] descreve: “A possibilidade de os gráficos mostrarem profundidade cria mais confusão quando esta profundidade não tem valor numérico. Isso acontece tanto em gráficos circulares, como de barras, e bem como em mapas geográficos. Espera-se que você olhe o plano ou a profundidade? Isso serve apenas para confundir a sua percepção da informação.

E Jones [JONES, Gerald Everett. How to Lie with Charts: Second Edition. Santa Monica: La Puerta Productions, 2007, pág. XVII] é ainda mais enfático ao criticar os gráficos em 3D: “Quando você precisar escolher um tipo de gráfico no PowerPoint, se você quiser enganar e distorcer, escolha tortas ou barras dimensionais. É virtualmente impossível fazer gráficos 3D que não dão a impressão errada.”

Os gráficos em 3D também sofrem do problema que Wurman chama de “despenhadeirite”, que é essa profundidade adicionada aos gráficos, que na maioria das vezes parecem como despenhadeiros circundando-os, como no exemplo acima. São ainda mais graves quando aparecem em mapas 3D, pois passam a impressão de um verdadeiro despenhadeiro, que poderia ter muitos quilômetros de profundidade se medido na mesma escala do mapa.




Gráfico de torta em 3D retirado do prospecto de fundos de investimento de um grande banco brasileiro, mostrando a composição de determinada carteira. Exemplo do uso desnecessário de uma perspectiva em 3D em um gráfico simples, que passa a sofrer de “despenhadeirite.”

Quando você olha o gráfico, sabe que a profundidade não está representando nenhuma informação, mas a sua mente vê essa profundidade e tenta tirar algum significado disso, ou o compara com as outras medidas. O uso de uma dimensão a mais que não traz nenhuma informação numérica só distrai e confunde.

O uso de gráficos 3D quando não são necessários é mais um exemplo de “lixo gráfico”, que mostra uma estupidez gráfica e denigre a imagem do produtor.

Mas os gráficos em 3D podem ser muito úteis quando apropriadamente usados, e não é necessário nem um computador para isso; uma prova que somente ferramentas excelentes não fazem gráficos igualmente excelentes, e a responsabilidade pela sua qualidade ainda recai sobre os ombros do produtor.

O estatístico italiano Luigi Perozzo ficou conhecido na segunda metade do século XIX por seus excelentes diagramas em 3D. Em 1879 ele publicou o seu diagrama mais conhecido, uma representação da pirâmide da idade da Suécia, baseada nos dados estatísticos do censo sueco de 1750 a 1875.

Gráfico em 3 dimensões de Luigi Perozzo, 1880, mostrando a evolução da pirâmide de idades da população da Suécia entre 1750 e 1875. Um exemplo precoce de um bom gráfico em 3 dimensões. [Perozzo, Luigi. Statistica Grafica - Della rappresentazione grafica di una collettività di individui nella successione del tempo, e in particolare dei diagrammi a tre coordinate - Memoria di Luigi Perozzo. Annali di Statistica, Serie 2, Vol. 12, 1880 (Ministero d'Agricoltura, Industria e Commercio, Direzione di Statistica). Imagem disponível em http://www.math.yorku.ca/SCS/Gallery/images/stereo2.jpg]
O gráfico mostra a evolução da pirâmide de idades da população sueca, entre 1750 e 1875. O eixo vertical (altura) representa a quantidade de pessoas, o eixo longitudinal (profundidade) representa as faixas etárias, e o eixo lateral (largura) representa os anos, começando em 1750 e terminando em 1875.

A primeira linha no eixo de idades (mais ao fundo) representa os nascidos vivos, e ela se sobressai sobre o resto do gráfico. Podem-se notar dois fatos interessantes com essa linha: o primeiro fato é que a faixa etária seguinte apresenta uma queda expressiva em população, denotando uma alta mortalidade infantil, mas que tende a diminuir com o passar dos anos; o outro fato é a ascensão rápida do número de nascidos a partir de 1850, o que provoca um degrau na pirâmide dos anos seguintes. Ambos os fatos poderiam ser atribuídos à melhoria da qualidade de vida e aos avanços da ciência e da medicina.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante seu post, porém não estão abrindo as gravuras no meu micro.

Alessandro Nicoli de Mattos disse...

Olá Anônimo,

Muito obrigado.

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