O gráfico a seguir sofre do mesmo problema dos gráficos da postagem anterior, ou seja, o uso de figuras substituindo barras. Mas desta vez com a agravante do uso de uma perspectiva que distorce mais ainda o tamanho das figuras.
Na parte superior da figura, um gráfico compara o número de brasileiros deportados da Espanha entre 2000-2003 e 2004-2007, usando uma figura de mala como se fosse uma barra. Os números mostram um aumento de 43,4% nas deportações, como indicado pela seta que sai da mala menor à esquerda e se direciona para a mala maior à direita, e como representado quase que corretamente pela altura das malas, que indicam um aumento de 50% (isso sem considerar a altura das alças, um outro enfeite que confunde mais ainda o leitor).
Enquanto o que está sendo comparado é a altura das malas, o olho e a mente do leitor percebe o desenho inteiro e instintivamente compara a área das figuras, cuja diferença indica um aumento de 150%, três vezes mais que o real.
O mesmo ocorre com as malas na parte de baixo, que indicam um decréscimo de 53,9% na chegada de imigrantes brasileiros ilegais na Espanha, como é corretamente indicado pela altura das malas. Porém, as áreas sugerem um decréscimo de cerca de 76%.
Mas o uso das figuras de malas como barras não era o suficiente para envolver o leitor no clima de terminal de aeroporto. O produtor desenhou os gráficos sobre a figura de um passaporte aberto, cuja folha frontal não está paralela ao plano da imagem, mas ascende da esquerda para a direita. Esta inclinação produz uma perspectiva nas figuras, que contribui para que as malas da esquerda pareçam menores, ou pelo menos, visualmente menos importantes, que as malas da direita.
Há um bom indício de que o produtor do gráfico quer valorizar a notícia, exagerando a impressão sobre o número de deportados pelo Governo da Espanha, e minimizando o número de chegada de imigrantes ilegais brasileiros, induzindo o leitor à conclusão de que o aumento de rigor das ações do departamento de imigração do governo espanhol são injustificadas.
Esta conclusão pode até fazer sentido e ser o resultado final de uma análise mais detalhada do caso, porém não é tarefa do desenho do gráfico induzir o leitor a essa ou aquela conclusão. Cabe ao gráfico, e ao seu produtor, comunicar a informação da maneira mais neutra possível e evitar qualquer estratégia de desenho que distorça a representação visual.
Na parte superior da figura, um gráfico compara o número de brasileiros deportados da Espanha entre 2000-2003 e 2004-2007, usando uma figura de mala como se fosse uma barra. Os números mostram um aumento de 43,4% nas deportações, como indicado pela seta que sai da mala menor à esquerda e se direciona para a mala maior à direita, e como representado quase que corretamente pela altura das malas, que indicam um aumento de 50% (isso sem considerar a altura das alças, um outro enfeite que confunde mais ainda o leitor).
Enquanto o que está sendo comparado é a altura das malas, o olho e a mente do leitor percebe o desenho inteiro e instintivamente compara a área das figuras, cuja diferença indica um aumento de 150%, três vezes mais que o real.
O mesmo ocorre com as malas na parte de baixo, que indicam um decréscimo de 53,9% na chegada de imigrantes brasileiros ilegais na Espanha, como é corretamente indicado pela altura das malas. Porém, as áreas sugerem um decréscimo de cerca de 76%.
Mas o uso das figuras de malas como barras não era o suficiente para envolver o leitor no clima de terminal de aeroporto. O produtor desenhou os gráficos sobre a figura de um passaporte aberto, cuja folha frontal não está paralela ao plano da imagem, mas ascende da esquerda para a direita. Esta inclinação produz uma perspectiva nas figuras, que contribui para que as malas da esquerda pareçam menores, ou pelo menos, visualmente menos importantes, que as malas da direita.
Há um bom indício de que o produtor do gráfico quer valorizar a notícia, exagerando a impressão sobre o número de deportados pelo Governo da Espanha, e minimizando o número de chegada de imigrantes ilegais brasileiros, induzindo o leitor à conclusão de que o aumento de rigor das ações do departamento de imigração do governo espanhol são injustificadas.
Esta conclusão pode até fazer sentido e ser o resultado final de uma análise mais detalhada do caso, porém não é tarefa do desenho do gráfico induzir o leitor a essa ou aquela conclusão. Cabe ao gráfico, e ao seu produtor, comunicar a informação da maneira mais neutra possível e evitar qualquer estratégia de desenho que distorça a representação visual.
Detalhe da figura de um passaporte aberto, cuja folha é representada em perspectiva. Sobre esta folha há o desenho de malas sendo usadas como barras, mas cuja variação da área não corresponde à variação da medida. [O Estado de São Paulo, 9 de março de 2008, pág. C1. Imagem digitalizada a partir do original]
Como discutido antes, os gráficos devem mostrar a variação nos dados, e não a variação do recipiente, ou se preferir, do desenho. Mas o uso de áreas e volumes vão contra este princípio. Usar áreas para mostrar dados unidimensionais é apenas um outro modo de confundir variação dos dados com variação de desenho. Variam-se duas ou três variáveis no desenho, para representar a variação de apenas uma medida.
Por isso Tufte [TUFTE, Edward Rolf, The Visual Display of Quantitative Information. Cheshire: Graphics Press, 2007, pág. 71] propõe o seguinte princípio: “O número de dimensões ilustradas carregando informação (variável) não deve exceder o número de dimensões nos dados”. Não use áreas ou volumes – ou seja, mais de uma dimensão - para demonstrar dados de uma variável.
Outras armadilhas são o uso de escalas diferentes entre as barras tanto no eixo de medida como no eixo da base, a utilização de eixos com valores de base diferentes de zero, ou o início das barras em posições diferentes. As escalas devem ser constantes, começar na mesma posição no eixo, e as escalas devem começar no zero.
Por isso Tufte [TUFTE, Edward Rolf, The Visual Display of Quantitative Information. Cheshire: Graphics Press, 2007, pág. 71] propõe o seguinte princípio: “O número de dimensões ilustradas carregando informação (variável) não deve exceder o número de dimensões nos dados”. Não use áreas ou volumes – ou seja, mais de uma dimensão - para demonstrar dados de uma variável.
Outras armadilhas são o uso de escalas diferentes entre as barras tanto no eixo de medida como no eixo da base, a utilização de eixos com valores de base diferentes de zero, ou o início das barras em posições diferentes. As escalas devem ser constantes, começar na mesma posição no eixo, e as escalas devem começar no zero.
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