segunda-feira, 18 de maio de 2009

MENTALIDADE ESTATÍSTICA - PARTE 1

Compreender as aplicações da análise estatística é um dos conhecimentos mais úteis na Era da Compreensão. São inúmeras as ocasiões em que esta habilidade pode salvar o consumidor de informações de armadilhas, ou evitar que o produtor engane o consumidor por pura ignorância ou falta de atenção. E também é uma habilidade necessária para compreender o mundo a nossa volta e exercer plenamente a nossa cidadania.

Quando eu era criança li que a expectativa de vida média a partir do momento do nascimento durante o Império Romano era de 28 anos; logo, imaginei que as pessoas morriam por volta dessa idade, e me perguntava como era a vida de pessoas que sabiam que iam morrer tão jovens. Li também que a expectativa de vida média no mundo no final do século XIX era de 37 anos, e que a atual é de cerca de 67 anos. Como as pessoas passaram a viver em média 30 anos a mais em apenas um século? Será que houve mudanças genéticas em nós ao longo da história recente que nos fizeram viver mais? Essas dúvidas me pareciam bem incoerentes.

Não, não houve mudanças genéticas recentes que nos fizeram ter vidas mais longas. As pessoas na época do Império Romano eram capazes de viver tanto tempo quanto as pessoas de hoje; é só conferir a idade a que chegaram poetas, filósofos, artistas ou políticos romanos ou gregos, que morreram de causas naturais, e não por doenças ou assassinatos.

A partir do momento que compreendi que essas estatísticas de expectativa de vida não refletiam uma média da longevidade do ser humano, e sim a média do tempo de vida de uma determinada população, as dúvidas desapareceram.

A evolução dos números nas estatísticas de expectativa de vida deve-se à forma como ela é calculada. Ela considera qualquer tipo de morte, por acidente, assassinato, doenças, guerras, e o mais importante, as mortes dos recém nascidos e crianças, cujas taxas são altas em sociedades pouco desenvolvidas, como as sociedades antigas. Conforme o mundo foi se desenvolvendo, curas para doenças foram criadas e as condições de vida melhoraram, resultando entre outros numa queda acentuada da mortalidade infantil, e assim aumentando a expectativa de vida média quando considerada a partir do momento do nascimento; no entanto as pessoas que conseguem sobreviver às causas de morte não naturais continuam morrendo com idade avançada, como há 2.000 anos.

Depois de toda essa confusão e de descobrir como esta estatística é calculada e o que ela realmente significa, pude adquirir uma mentalidade estatística sobre este assunto. Agora sei que se em um país havia dois habitantes, e um morreu com 99 anos, e o outro apenas com apenas 1 ano de idade, a expectativa de vida média desse país será a simples média aritmética das idades de morte, ou seja, de 50 anos. Essa média tem uma grande diferença para os valores de suas parcelas, e por isso pode-se dizer que é uma estatística com dispersão alta.

Em algumas sociedades pouco desenvolvidas, para evitar que as altas taxas de mortalidade infantil distorçam essas estatísticas, a média de vida é calculada a partir dos 5 anos de idade, ao invés do momento do nascimento. E isso me parece óbvio e correto agora, que entendo como a estatística de vida é calculada. Da próxima vez que eu ver uma média da expectativa de vida, vou questionar se ela é a partir do nascimento ou a partir dos 5 anos de idade.

Nós nos deixamos influenciar por informações numéricas, e não as questionamos, o que nos impede de compreendê-las realmente. Então o mais provável é que sejamos enganados. Assim, é melhor ignorar uma informação que não se entende, do que tentar agir baseado nela.

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