sexta-feira, 15 de maio de 2009

ESTATÍSTICAS NA MÍDIA, NA PUBLICIDADE E EM ESTUDOS

Estatísticas são usadas extensivamente na mídia, na publicidade e em todos os tipos de estudo. Não somente porque os números são capazes de informar de uma maneira que as palavras não conseguem, ou sumarizar uma grande massa de dados em uma só afirmação, mas também porque eles podem ser facilmente manipulados e expressos da maneira que for mais conveniente, defendendo qualquer ponto de vista, e, contudo, sem você estar tecnicamente mentindo. Você não pode provar qualquer fato com estatísticas, mas pode sempre encontrar algo bom ou mal para dizer sobre o assunto.

Estamos atolados por números e estatísticas que nos atingem por todos os lados, afirmando verdades e gritando por uma importância que não questionamos, por acreditar que se eles estão lá, devem estar corretos e devem ser importantes para nós. São tantas estatísticas querendo provar todo tipo de fatos, que muitas até mesmo se contradizem.

Raramente questionamos estes números por considerarmos que se eles estão lá, são corretos e válidos, ou pelo menos alguém já teve o trabalho de verificá-los. Mas isto muitas vezes não é verdade; não passa de informação falsa ou simplesmente não-informação. Números que são publicados sem qualquer referência ou verificação podem induzir as pessoas a ações e comportamentos prejudiciais.

Mesmo números que sempre acreditamos serem de suma importância, como os índices das bolsas de valores, como o IBOVESPA, por exemplo, são só a média de um conjunto de ações de grandes empresas, e não representam o mercado de ações como um todo.

A publicidade é um campo em que sempre temos que questionar o interesse da fonte da informação sobre o que está sendo afirmado. Mesmo nos casos em que estatísticas e avaliações são creditadas a laboratórios independentes, possivelmente os números certos foram escolhidos com um propósito ou algumas informações foram omitidas para transmitir a mensagem certa.

Não é difícil se deparar com comerciais em revistas, jornais, televisão, rádio, Internet ou até em e-mails spams patrocinados por fontes suspeitas, afirmações do tipo (todas elas são apenas exemplos fantasiosos, mas relembram bastante as publicidades que estão por aí):

Aveia ajuda a baixar as taxas de colesterol em 35% dos casos”, em um estudo de um laboratório “independente” patrocinado por uma indústria de cereais.
Chocolates ajudam a evitar cáries”, uma descoberta creditada a uma marca de chocolates.
Tomar café diariamente ajuda a melhorar a memória em 22%”, em pesquisa de uma associação de produtores de café.
Tomar café diariamente aumenta em 67% as chances de ter gastrite”, em pesquisa de uma associação de produtores de leite.
Tomar vinho tinto todos os dias aumenta em 5 anos a expectativa de vida”, associação de vinícolas.
Esse novo espremedor de laranja tira 28% a mais de suco que os outros”, na caixa do eletrodoméstico sendo vendido no supermercado.
Comer peixe 4 vezes por semana diminui em 58% a chance de um ataque cardíaco”, associação dos comerciantes de peixe.
Leite de cabra do Himalaia aumenta o nível de potência sexual masculina em 86% depois de 3 meses de uso diário”, importadores de leite de cabra do Himalaia.

Os mais desatentos podem não perceber, mas em todas essas afirmações aparentemente claras, sucintas e diretas ao ponto, estão sérios problemas de manipulação de números e omissão de dados importantes, além é claro, do óbvio interesse do produtor na divulgação dessas informações.

O interesse do produtor geralmente está em exagerar alguma nuance de seus dados estatísticos, para corroborar a sua opinião ou ponto de vista. É o que mais comumente acontece nos meios noticiosos, que tendem a exagerar os quadros que as estatísticas sugerem para tornar as matérias e reportagens mais interessantes e conseqüentemente mais vendáveis. E é difícil acreditar que essas distorções são motivadas por pura ignorância ou preguiça, e que não há uma dose de culpa do produtor, pois quase sempre as situações são exageradas, e quase nunca minimizadas.

Esses produtores de informação esperam que você engula qualquer ponto de vista baseado em números escolhidos a dedo e em estatísticas infundadas. Como Huff [HUFF, Darrel, How to Lie with Statistics. New York: W W Norton & Company INC, 1954, pág. 47] explica: “Parece que o repórter passou pra frente algumas palavras sem se questionar o que elas significam, e espera-se que você as leia tão sem crítica quanto eles para a feliz ilusão que elas te dão de ter aprendido algo. Isto tudo é remanescente de uma velha definição de método de lecionamento da instrução na sala de aula: o processo pelo qual o conteúdo de um livro de texto do instrutor é transferido para o caderno de notas do estudante sem passar através das cabeças de nenhum dos dois”. Mas não é assim com quem tem uma mentalidade estatística.

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